CINEMANIACOS2011

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

JARDIM DAS FOLHAS SAGRADAS




direção: Pola Ribeiro
elenco: Antonio Godi, Érico Braz, João Miguel, Harildo Dêda, Sergio Guedes
país: Brasil
gênero: drama
ano: 2011

Envolto em muita expectativa, “Jardim das Folhas Sagradas” demorou 11 anos para ficar pronto. O que o diretor baiano Pola Ribeiro nos apresenta mescla tons autorais e documentais com toques de história comercial, abordando um tema rico em detalhes e muito atrelado à cultura baiana.

O filme conta a história de Bonfim (Antonio Godi), funcionário padrão de um banco que tem sua raiz num terreiro de candomblé e que luta internamente para se decidir entre a vida “normal” e seu destino inexorável.

O grande mérito de Pola Ribeiro é transportar o público para o universo do candomblé, suas crenças e valores, práticas e rituais. Afora algumas poucas pessoas, a grande maioria da população brasileira tem pouco ou nenhum contato com a religião, o que tornaria a experiência do filme pouco factível. Mas isso não acontece, pois o filme busca a todo momento transparecer que aquele mundo é natural e está no escopo da vida de todos nós. Além disso, o roteiro se preocupa em explicar diversas situações, sem que isso ganhe um tom de didatismo comum em obras sobre culturas tão particulares. É prazeroso, portanto, mergulhar nas rotinas de um candomblé e conhecer mais a fundo rituais religiosos, tão belos em seus movimentos quanto ricos em seu teor cultural.

A história principal aborda uma questão universal, embora num mundo tão particular: devemos fugir do nosso destino? No caso desse filme, talvez a pergunta seja outra: será que podemos fugir do nosso destino? No candomblé esse assunto é sério e perpassa gerações. A continuidade de um projeto religioso (contando que estamos dentro de um terreiro específico) envolve muito mais do que escolha pessoal, pois dá conta de outras famílias e situações que fogem ao individual. O lado coletivista aqui é muito importante, mostrado de forma clara por Pola em diversas cenas do filme, principalmente a partir da segunda metade da trama quando Bonfim segue seu caminho particular.

A pedra no sapato de “Jardim das…”, no entanto, aparece a todo o momento. A fragmentação excessiva do roteiro atrapalha a cadência da história e convoca o espectador para uma tarefa cansativa de juntar os pedaços. Óbvio que o entendimento geral não é comprometido, mas muitos detalhes da história ficam sem desenvolvimento – ou então se desenvolvem de maneira não tão clara. Como bem observou nosso colaborador Bruno Porciuncula, o filme tenta tratar de diversos assuntos paralelos, mas os abandona rapidamente para se dedicar ao mote principal do longa. Legítimo, até, porém essa prática constante borra razoavelmente o cadenciamento da trama. Então, assuntos paralelos como preconceito racial, intolerância religiosa, especulação imobiliária, cultura popular e outros têm breves passagens e até compõem o escopo geral de “Jardim das..”, mas ficam soltos no ar.

Ainda assim, o filme é uma viagem agradável e reveladora ao universo do candomblé, sem que isso represente uma história fechada em si própria.
Fonte: http://www.cafecompop.com/2011/08/critica-de-filme-jardim-das-folhas-sagradas-2011/

Nenhum comentário: